sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ouro de tolo.

 Nada faz menos sentido do que a imposição da autoridade. A morte da razão e da fé está dada, os homens são incapazes de saborear a própria existência. Os sons que escuto na minha janela são imperceptíveis, são quase grotescos, na verdade. É aterrorizante sair na rua e escutar o tumulto e o caos que a ordem trouxe. As vozes expressam o medo, a fala rápida, as gírias, os monossílabos, o esclarecimento pervertido. Já não posso falar em Amor, pois este nasce rápido, e nascendo já formado seu único caminho é a morte, uma morte podre e pútrida, sem sentido. A abstração é um mal que não se pode mais explicar. Todos os homens abstraíram a sua própria vontade, são coagidos a acreditar que são livres. Estrangulam-nos por não crermos na liberdade. Minha razão está pervertida, todo o meu corpo foi imaculado, violado por ideias que queria me negar, que querem me julgar e subjugar a morrer pelo que não sou. Pior. Querem que eu viva, que seja o que não sou, o que não posso jamais ser sem antes morrer.
 Foi-me negada a existência fora de mim.

domingo, 13 de maio de 2012

Sete horas da manhã

Poema escrito numa daquelas dolorosas aulas às sete da manhã.

Sete horas da manhã (Ricardo José)

Só o sol das sete horas me salva.
Apenas ele me reglorifica,
calmo e sereno, luz quase transparente.
Apenas às sete horas a salvação é possível.

Um mundo que mata às sete horas
não merece as flores que crescem.
Que crescem certamente nos esgotos,
nos corpos dos teus filhos mortos em dor.

O sol reluz na pele das tuas filhas
sem-nome, que se esfregam na sujeira
da noite, afogadas em lama,
de horror e lágrimas.

Às sete horas a sujeira parece crime,
parece crime morrer de desgosto.
Parece vil a luz do sol que nasce,
pois se ela não salva, mostra.