segunda-feira, 10 de março de 2014

Das pernas, das mãos, das colchas e da fome.

Das pernas, das mãos, das colchas e da fome.

Prefiro esta beleza que vem das pernas,
que te faz caminhar, mesmo que sem elas.
Gosto desta beleza que vem das tuas mãos,
explorando o mundo e o meu corpo.
Quero o envolver dos cheiros
guardados na pele e nas colchas:
saciar a fome que vem do peito
(mas que resiste
enquanto a primavera
entorna e floresce sobre nós).

sexta-feira, 7 de março de 2014

Como era gostoso o meu baço

    São 13:40, estou terminando de almoçar: a última garfada de um delicioso baço carioca, bem preparado, talvez apenas com gordura e agrotóxico demais. Enquanto mastigo olho para uns pés, meus pés muito provavelmente, mas não posso ter certeza, apesar de não me lembrar de ninguém me visitando hoje à tarde. O prato se move sozinho para a pia, em algum momento será lavado. Apesar de não me sentir completamente satisfeito, apesar de um pouco incomodado pela surpresa de um sabor tão inusitadamente bom, fico olhando para a cozinha, bagunçada e imunda. Não havia braço o suficiente para limpar e cozinhar ao mesmo tempo. Na verdade não houve braço algum.
    Mais ou menos uma hora antes eu me dirigi à cozinha para preparar qualquer coisa rápida. Passeando com o olhar desolado pela despensa vazia encontro, com a glória única dos que tem a preguiça e a necessidade de preparar o próprio almoço, um pacote de macarrão ninho pela metade. Satisfeito pego uma panela e ponho a água para esquentar. Talvez tenha uns hambúrgueres no congelador, eu penso. Sorrio e xingo sem pudores pela felicidade indescritível.